Torcida: massa burra?
Não sei se alguém já percebeu, mas é muito difícil eu postar alguma coisa “séria” aqui. Pois é, mas quando pisam no meu calo, sai de baixo. Eu solto o verbo.
Pra quem não sabe, sou formado na PUC-Campinas no curso de Publicidade Propaganda e Marketing. Sou fotógrafo e tento ser criativo em tudo que eu faço. Mas claro, nem sempre consigo (ou quase nunca). Nem Nizan Guanaes e Washingon Olivetto são 100% do tempo criativos (e pra falar a verdade, creio que nem 15%), quem dirá minha pessoa.
Pois bem. A imprensa sempre falou muito do “marketing” que o São Paulo faz com todas as suas ações. Na verdade o que o São Paulo sempre fez muito bem foi “propaganda”, que é um dedo de um braço dos mil e um que o marketing oferece. Mas deu certo. O Reffis é conhecido mundialmente como um dos melhores centros de reabilitação de atletas do mundo, o São Paulo é o melhor ambiente pra se trabalhar, time vencedor, etc.
Muitas vezes ouvi nos papos de botequim, li em comunidades do Orkut (claro, vamos encarar, Orkut é uma realidade), que “se meu time soubesse fazer o marketing que o São Paulo faz....”
Pois é, ninguém até ontem fazia.
Até ontem!
O processo de recuperação do Corinthians envolve hoje não só o acesso para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, mas principalmente a reconstrução de sua imagem, de sua credibilidade. Sem contar a readequação financeira e quitação de dívidas herdadas da administração anterior, a maior catástrofe da história do Corinthians.
E está conseguindo. Aos poucos, com muito empenho a imagem do Corinthians está se restabelecendo. Com uma equipe competitiva, um técnico que passa sobriedade e sabedoria o time do Corinthians surpreende neste inicio de temporada, mesmo depois de reformular todo o elenco. De ponta a ponta. A imagem de clube empreendedor começa a se formar.
Quem é o maior responsável por isso tudo? Andrés Sanchez?
Digo de boca cheia que NÃO. No máximo ele fez o bem de nomear Luís Paulo Rosemberg, um dos pais do Plano Cruzado e um dos mais respeitados economistas do Brasil, como Vice-Presidente de Marketing. Luís revolucionou o departamento do time paulista e vem conseguindo proezas jamais conquistadas no futebol nacional.
O bom profissional de marketing é aquele que enxerga no problema uma ótima oportunidade. E foi exatamente isso que o economista fez. Para muitos a queda para a Série B poderia ser considerada uma catástrofe. E foi. Mas poderia ser muito pior.
Um bom exemplo disso é o Palmeiras. Sim, nosso arqui-rival. Somente depois de seis anos de seu rebaixamento à Série B o clube começa a reconstruir sua credibilidade, porém, com as pernas dos outros, recebendo aporte financeiro da TRAFFIC, e assim formando um bom elenco e contratando Vanderley Luxemburgo. O que é preocupante, já que o histórico das conseqüências pós “parcerias” no futebol brasileiro não é dos melhores (para ser bonzinho). Que os diga o mesmo Palmeiras e Corinthians.
Mas nada do que Rosemberg está fazendo é novidade no mundo do futebol. Tudo isso já foi feito, refeito e re-re-refeito na Europa e em outros quatro cantos do mundo. Um marketing de “guerrilha”, que fala diretamente com o torcedor, mexendo com suas emoções, afinal torcedor não age pela razão e sim pela emoção. Futebol é isso. E assim, o Corinthians está se restabelecendo muito rápido. Méritos da visão do economista, que conseguiu rever todos os contratos de patrocínio do clube e simplesmente conseguir os melhores números do Brasil, detalhe, comestando na Série B.
O Palmeiras lançou sua camisa “marca-texto”. Aprovação de uns, reprovação de outros, sucesso de vendas nas lojas. Hoje olhamos a arquibancada do Parque Antártica e vemos uma mescla de verde, branco e amarelo-cheguei-limão. O Palmeiras perdeu sua identidade por conta disso?
Vai o Corinthians e, através do seu departamento de Marketing, lança a campanha com o slogan “Só o Corintiano é Roxo”. Brilhante! É indiscutível a paixão da torcida corintiana pelo seu time, só comparada torcida rubronegra carioca. Uma bela jogada de marketing (uma das) para alavancar a receita do clube.
A cor roxa não é novidade no futebol também. O Real Madrid já usou, a Fiorentina usa, só para citar alguns. Mas...
...no Corinthians tudo é diferente.
Mesmo com 30mil camisas vendidas em 2 dias de lançamento, recorde de vendas, uma certa parte da torcida pode colocar em risco toda uma excelente jogada de marketing. Tudo isso por puro preconceito. Pela ignorância alheia em ligar o Roxo a um personagem supostamente gay dos Telletubbies.
Ontem, durante a primeira partida do Corinthians com a nova camisa, se pôde ouvir uma parcela da torcida gritando que Corinthians é Preto e Branco, querendo usar a tradição como peneira para tapar o preconceito e a ignorância, para não dizer a burrice.
Este tipo de torcedor é que põe em risco o clube. O torcedor alienado, que não consegue perceber que suas críticas de nada ajudam o seu time que passa pela situação mais delicada de sua história.
O Roxo, que já foi símbolo de hombridade na época de Collor, que dizia ter “aquilo roxo”.
Culpa da torcida?
Em grande parte sim. De uma parcela da torcida sim. Mas também houve falha no planejamento estratégico de marketing. Faltou uma inserção mais suave da cor, um processo de identificação, e principalmente, uma acessoria para o Sr. Andrés, que tem espírito empreendedor, mas não sabe lidar com pessoas, quanto mais com a torcida, soltando hora ou outra alguma frase infeliz.
Não defendo aqui um apoio total e irrestrito ao clube. Mesmo porque a crítica é fator importantíssimo. Só existe evolução quando se tem a oposição. Mas a crítica aberta, sem embasamento e sem o intuito construtivo, é prejudicial.
O que deixa um corintiano como eu preocupado é que estes torcedores que hoje reclamam do roxo são os mesmos que antes, nas conversas de botequim e nos fóruns do Orkut, invejavam as ações tricolores.
Minha preocupação é sobre o nascimento de uma “extrema esquerda” como na política nacional. Aquele tipo que é oposição com o único intuito de ser... oposição. A famosa ala “do contra”, que nada de bom adiciona.
É importante que haja um trabalho de conscientização, de esclarecimento e de conquista deste torcedor para o lado do clube. Que haja crítica, que haja a não concordância com algumas ações, mas que todos estejam ali para o bem do Clube. Só assim seremos do tamanho que merecemos.