Corintianismo
“O Corinthians é muito mais que um clube de futebol. O Corinthians é uma religião, é uma grande nação, mas muito mais que isso o Corinthians é uma voz, o Corinthians é uma força, é uma forma de expressão que a sua população tem, num país em que os mais fracos social, político e economicamente não tem voz nunca, nesse caso tem. Através do Corinthians eles conseguem se manifestar. A torcida corintiana se utiliza de seu clube, seu time, a sua expressão física como forma de contestação de tudo aquilo que não lhes é dado de direito.”
Citação do ex-jogador Sócrates.
Citação do ex-jogador Sócrates.
Cinco de Novembro de 1981. Nasce mais uma criança com cara de joelho, mais um corintiano apostólico romano devoto de São Jorge. Para ser bem sincero, não me recordo de como comecei a torcer pelo Corinthians e passo a acreditar que eu já era alvinegro desde a barriga da minha mãe. Esta era a única pessoa que não torcia pelo todo poderoso na família. Pai e avô eram os maiores torcedores. Meu avô, o mais fanático, foi quem me deu a primeira camisa quando eu tinha cinco anos de idade em mil novecentos e dip’n lik.
Nunca fui fanático e nem tinha como ser. Quando comecei a gostar de futebol o Corinthians vinha mal das pernas, início da década de 90, aquela coisa erma que não ganhava nem perdia. Tanto que naquela época meus ídolos eram os folclóricos Viola, Neto e o Tupanzinho. Lembro que em 1992 o Neto foi na escola que eu estudava. Quando vi aquele cara branquelo e gordinho entrando pelo portão da janela da minha sala saí correndo com agenda e caneta nas mãos, largando a professora falando sozinha. Foi o primeiro autógrafo que ganhei na vida. Primeiro e último.
Na minha sala a predominância era de torcedores do São Paulo. Era escola particular com um bando de “preibói” correndo atrás da moda. Nesta época a moda era torcer pelos Bambis, que estavam no auge, ganhando Libertadores e Mundiais um atrás do outro.
Mas existia um corintiano fanático na minha turma. Lembro bem dele. O nome era Antônio e o apelido “Caquinha”, por ele viver com o nariz escorrendo. O garoto era o mais pobre da sala e ia pra escola com a camisa dos Gaviões da Fiel. Eu achava aquilo o máximo. Andava com ele pra todo lado. Éramos os dois mais zoados da escola, aqueles que todo mundo pegava no pé.
Mesmo assim, nunca fui fanático. Eu tentava ser, mas gostava mais de basquete da NBA que de futebol. Torcia pelo Phoenix Suns só por causa do Charles Barkley, que eu achava ser O CARA. Eu colecionava aqueles famosos Cards e fazia escolinha de basquete. Mas como esporte nunca foi minha praia, desisti de jogar pouco depois.
Fui duas vezes no estádio nessa época. As duas vezes assistir Corinthians e Guarani no Brinco de Ouro da Princesa, com meu pai, tio e avô. Nas duas ocasiões 1 a 1. Meio broxante, eu diria. Ou seja, nada colaborava para eu ser fanático.
O ciclo do São Paulo tinha acabado e iniciado o do Palmeiras com a parceria com a Parmalat. Aquele time que era praticamente uma seleção brasileira.
Paulistão de 1993, Corinthians e Palmeiras. O Timão tinha vencido o primeiro jogo por 1 a 0 com gol de Viola e aquela lendária representação de porco na comemoração. Segundo jogo e o Corinthians toma um baile de Edmundo, é goleado e perde a final. Mais água fria na minha tentativa de fanatismo.
Até que o Corinthians começou em 1995 a ganhar títulos. Primeiro o Paulistão, depois a Copa do Brasil. Início da Era Marcelinho “pé de anjo” Carioca, e da onda de “atletas de Cristo”. Ao menos um título por ano. Chega 1998 e pela primeira vez lúcido, eu vejo o Corinthians ser Campeão Brasileiro (eu me lembro vagamente do título de 90, mas muito vagamente mesmo). 1999 e o Todo Poderoso é Bi-Campeão Brasileiro. 2000, título Mundial Interclubes. Surgem meus novos ídolos: Rincón, Luizão, Ricardinho e o maior deles, o Vampeta. Eu já tinha 17 anos e já entendia um pouco de futebol. Vampeta era raçudo, irreverente e corintiano declarado. Ingredientes que todo torcedor do Corinthians gosta.
Era minha hora de virar um corintiano fanático do tipo que não come alface porque é verde. Mas não. Eu vibrava, tirava sarro de torcedor adversário, mas nada de fanatismo.
O tempo passou, e em 2003 comecei a trabalhar em uma grande empresa. Como bom Técnico Mecânico viciado em computador, fui trabalhar como desenhista junto com a peãozada toda. “Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. E o diabo, com inveja, fez o peão.” já dizia a sabedoria popular. Foi só o povo descobrir que eu sou corintiano que todo mundo me zoava. Todos achavam que eu era fanático, e quando o Corinthians perdia já vinham me alugar pela semana toda. Eu não entendia porque que eles se importavam tanto com futebol, mas aquela bagunça toda já estava me dando nos nervos. Isso foi fazendo eu me interar mais do assunto, acompanhar campeonatos e assistir mais jogos na TV só para poder no outro dia tirar sarro da peãozada. Foi aí que eu entendi o fanatismo. Fanatismo saudável, eu diria, pois não fico bravo com as brincadeiras dos colegas, mas dou um jeito de sair por cima, como todo corintiano chato.
Hoje me policio para não consultar a Internet de cinco em cinco minutos pra saber das novas noticias, vídeos, etc. sobre o Corinthians. Em dia de jogo fico nervoso, e enquanto assisto fico com as mãos suando, roendo unha e xingando até a nona geração do juiz. Ainda mais que nos últimos tempos nem a diretoria nem o time tem colaborado.
Por fim das contas acabei descobrindo que é difícil ser fanático, mas é muito mais difícil deixar de ser, que o termo “corintiano doente” é a melhor expressão do “corintianismo”, que a citação do Sócrates faz mais sentido do que eu imaginava, e por fim das contas, que ser corintiano é conhecer o céu e o inferno profundamente em questão de minutos e mesmo assim ser cada vez mais apaixonado.
Salve, meu São Jorge.
Vai Curintia!
Nunca fui fanático e nem tinha como ser. Quando comecei a gostar de futebol o Corinthians vinha mal das pernas, início da década de 90, aquela coisa erma que não ganhava nem perdia. Tanto que naquela época meus ídolos eram os folclóricos Viola, Neto e o Tupanzinho. Lembro que em 1992 o Neto foi na escola que eu estudava. Quando vi aquele cara branquelo e gordinho entrando pelo portão da janela da minha sala saí correndo com agenda e caneta nas mãos, largando a professora falando sozinha. Foi o primeiro autógrafo que ganhei na vida. Primeiro e último.
Na minha sala a predominância era de torcedores do São Paulo. Era escola particular com um bando de “preibói” correndo atrás da moda. Nesta época a moda era torcer pelos Bambis, que estavam no auge, ganhando Libertadores e Mundiais um atrás do outro.
Mas existia um corintiano fanático na minha turma. Lembro bem dele. O nome era Antônio e o apelido “Caquinha”, por ele viver com o nariz escorrendo. O garoto era o mais pobre da sala e ia pra escola com a camisa dos Gaviões da Fiel. Eu achava aquilo o máximo. Andava com ele pra todo lado. Éramos os dois mais zoados da escola, aqueles que todo mundo pegava no pé.
Mesmo assim, nunca fui fanático. Eu tentava ser, mas gostava mais de basquete da NBA que de futebol. Torcia pelo Phoenix Suns só por causa do Charles Barkley, que eu achava ser O CARA. Eu colecionava aqueles famosos Cards e fazia escolinha de basquete. Mas como esporte nunca foi minha praia, desisti de jogar pouco depois.
Fui duas vezes no estádio nessa época. As duas vezes assistir Corinthians e Guarani no Brinco de Ouro da Princesa, com meu pai, tio e avô. Nas duas ocasiões 1 a 1. Meio broxante, eu diria. Ou seja, nada colaborava para eu ser fanático.
O ciclo do São Paulo tinha acabado e iniciado o do Palmeiras com a parceria com a Parmalat. Aquele time que era praticamente uma seleção brasileira.
Paulistão de 1993, Corinthians e Palmeiras. O Timão tinha vencido o primeiro jogo por 1 a 0 com gol de Viola e aquela lendária representação de porco na comemoração. Segundo jogo e o Corinthians toma um baile de Edmundo, é goleado e perde a final. Mais água fria na minha tentativa de fanatismo.
Até que o Corinthians começou em 1995 a ganhar títulos. Primeiro o Paulistão, depois a Copa do Brasil. Início da Era Marcelinho “pé de anjo” Carioca, e da onda de “atletas de Cristo”. Ao menos um título por ano. Chega 1998 e pela primeira vez lúcido, eu vejo o Corinthians ser Campeão Brasileiro (eu me lembro vagamente do título de 90, mas muito vagamente mesmo). 1999 e o Todo Poderoso é Bi-Campeão Brasileiro. 2000, título Mundial Interclubes. Surgem meus novos ídolos: Rincón, Luizão, Ricardinho e o maior deles, o Vampeta. Eu já tinha 17 anos e já entendia um pouco de futebol. Vampeta era raçudo, irreverente e corintiano declarado. Ingredientes que todo torcedor do Corinthians gosta.
Era minha hora de virar um corintiano fanático do tipo que não come alface porque é verde. Mas não. Eu vibrava, tirava sarro de torcedor adversário, mas nada de fanatismo.
O tempo passou, e em 2003 comecei a trabalhar em uma grande empresa. Como bom Técnico Mecânico viciado em computador, fui trabalhar como desenhista junto com a peãozada toda. “Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. E o diabo, com inveja, fez o peão.” já dizia a sabedoria popular. Foi só o povo descobrir que eu sou corintiano que todo mundo me zoava. Todos achavam que eu era fanático, e quando o Corinthians perdia já vinham me alugar pela semana toda. Eu não entendia porque que eles se importavam tanto com futebol, mas aquela bagunça toda já estava me dando nos nervos. Isso foi fazendo eu me interar mais do assunto, acompanhar campeonatos e assistir mais jogos na TV só para poder no outro dia tirar sarro da peãozada. Foi aí que eu entendi o fanatismo. Fanatismo saudável, eu diria, pois não fico bravo com as brincadeiras dos colegas, mas dou um jeito de sair por cima, como todo corintiano chato.
Hoje me policio para não consultar a Internet de cinco em cinco minutos pra saber das novas noticias, vídeos, etc. sobre o Corinthians. Em dia de jogo fico nervoso, e enquanto assisto fico com as mãos suando, roendo unha e xingando até a nona geração do juiz. Ainda mais que nos últimos tempos nem a diretoria nem o time tem colaborado.
Por fim das contas acabei descobrindo que é difícil ser fanático, mas é muito mais difícil deixar de ser, que o termo “corintiano doente” é a melhor expressão do “corintianismo”, que a citação do Sócrates faz mais sentido do que eu imaginava, e por fim das contas, que ser corintiano é conhecer o céu e o inferno profundamente em questão de minutos e mesmo assim ser cada vez mais apaixonado.
Salve, meu São Jorge.
Vai Curintia!